sábado, 5 de dezembro de 2009

Criton



Isso significa que se deve dispensar maior atenção àqueles que conhecem de modo profundo determinado assunto, uma vez que essa experiência é mais proveitosa para o ser humano do que a coleta de opiniões a esmo.
Adequando esse postulado à questão da Justiça, Platão coloca que há apenas um guia seguro para a sua concretização: a Verdade. Sócrates está na prisão. Espera por trinta dias para a execução de sua sentença. Recebe a visita de Críton, seu discípulo. Críton chega bem cedo à prisão e encontra Sócrates dormindo. Como pode dormir tranqüilamente quem está para morrer/ Sócrates responde que não tem medo da morte e, pergunta: o navio já chegou? Não, mas tive notícias que está para chegar.
Críton, você coloca em risco a nossa reputação fazendo a proposta de fuga. O povo irão dizer que somos falsos amigos, por não pagar a fiança. Críton, vocês estão preocupados com a opinião popular? Sócrates, você tem a oportunidade de fugir e viver no estrangeiro. Seus filhos poderão ser destratados e morrerem na miséria. Críton, eu vou seguir o seu conselho, desde que você demonstre que fugindo de Atenas não estou contra os inocentes e contrariando as leis.
Sócrates, você está vivo, falou na cidade, tem formação e educou os filhos. Tudo foi dado pelas leis porque casamos teus pais, educou a si e a teus filhos. A possibilidade de que não concordando com as leis, pagar fiança e ir embora. Você fez um compromisso: sofistas – retórica de linguagem; se sua palavra não se mantiver estará rompendo conosco. Se nos banalizar o que será dos inocentes?
É um tratado sobre as leis, enfocando o que proporciona aos homens. Antes sofrer uma injustiça do que pagar uma injustiça com injustiça. Conclui que não deve pagar com uma injustiça. Sócrates foi considerado positivista pelo apego às leis. A obediência às leis é o caminho certo para chegar à justiça. As leis não têm necessariamente a justiça. Trata-se da crença na verdade e da necessidade de obediência às Leis. Tem-se aqui o primeiro dos axiomas: o emprego necessário da Verdade. Obviamente, cabe ao Advogado elaborar suas alegações da maneira mais favorável possível aos interesses de seu representado. O que não se pode admitir é a utilização de argumentos sabidamente falaciosos e inverídicos, vez que isso em nada contribui para a realização da Justiça.
De fato, é tarefa própria de o advogado apresentar para o Juiz todas as possíveis alternativas para que o mesmo decida o conflito favoravelmente a seu cliente. Todavia, não pode se deixar de levar em consideração que esta atividade encontra limites na Verdade e, em última análise, no quanto disposto pelas Leis. Não se pode buscar a vitória a qualquer custo. Em verdade, para que se concretize o ideal de dar a cada o que é seu, deve-se ter por base um critério. Esse critério, cujo respeito se impõe a todos, não é outro senão àquele estabelecido pelas Leis.
De acordo com o filósofo grego, não se deve nunca cometer uma injustiça, vez que esta se confunde com o conceito de mau, e é evidente que os homens devem atuar de modo bom.
Não é correto que o Advogado, na efetivação da tarefa inerente à profissão, ignore uma lei por considerá-la injusta. Deve obedecê-la, ainda que não concorde com seus termos. Não se pode pagar um injustiça com outra, nem desrespeitar as Leis sempre que convém, vez que Leis inaplicáveis são como inexistentes. É fundamental notar que as Leis são o parâmetro da atuação do profissional do Direito, mostrando-se ora como fonte de liberdade, ora como restrição.
Para que se concretize o ideal de dar a cada o que é seu, deve-se ter por base um critério. Esse critério, cujo respeito se impõe a todos, não é outro senão àquele estabelecido pelas Leis.
Desse modo, tem-se que cabe ao Advogado aceitar e fazer valer o quanto disposto nas Leis. Atuando desse modo, certamente estará auxiliando na difícil busca da efetivação da Justiça.
Finalmente, cabe ressaltar que, embora a veracidade desses ideais seja de difícil questionamento, sabe-se que a sua consecução também não é tarefa fácil.
Contudo, a busca incessante pela efetiva realização desses ideais certamente aperfeiçoa o ser humano, acarretando benefícios para todos os componentes da sociedade. Se todos os indivíduos fossem irrestritamente justos, não haveria conflito, nem Direito. Todavia, isso não irá jamais ocorrer dada a complexidade da natureza humana, a qual, embora seja objeto constante da preocupação dos estudiosos, também é razão do eterno fascínio do homem para consigo mesmo.

Paidéia dos Guardiões

acropole

    Segundo Platão, a educação dos guardiões da República deve começar pela ginástica e pela música: a ginástica para o corpo e a música para alma. Todavia, por que as crianças começam sua educação ouvindo histórias, ele é de opinião que a música seja ensinada antes da ginástica. No entanto sabemos que essas histórias contêm mais mentiras que verdades.
Por isso Platão insiste em dois princípios básicos para educação das crianças. Primeiro modelar bem seu caráter e revesti-lo com um sinal que fique impresso em sua alma a partir da infância, pois em tudo a coisa mais importante é o começo. Segundo, vigiar os compositores de histórias e admitir somente aquelas que possam contribuir para a sua educação moral e política, rejeitando as que não estiverem de acordo com este modelo. A tarefa posterior cabe às amas e às mães, cuja função é narrar essas histórias para as crianças, com elas modelando suas almas, mais do que seus corpos com suas mãos. Mas dentre as histórias do seu tempo, diz Platão, a maioria deveria ser rejeitada.
Especificando mais, ele sugere que se rejeite nessas pequenas histórias o mesmo que devem ser rejeitado nas histórias dos dois grandes poetas épicos, Homero e Hesíodo, os quais foram incapazes de criar suas ficções com justeza. E como exemplo da maior mentira a respeito dos maiores deuses, cita os crimes cometidos na família divina pelos primeiros deuses: Cronos mutilando o próprio pai Urano, ou as lutas entre este e seu filho Zeus, quando este encadeou o pai por ocasião da guerra dos gigantes.
Não sendo poeta, mas apenas fundador de cidade, Platão não se sente na obrigação de conhecer os modelos de acordo com os quais os poetas devem escrever suas histórias. Mas, quando interrogado a respeito dos modelos de sua teologia, sua resposta é incisiva: tal como Deus realmente é, assim deve sempre ser representado, quer na epopéia quer na poesia lírica quer na tragédia. Para Platão, Deus é essencialmente bom, absolutamente não nos prejudica não nos causa mal nem é fonte de qualquer mal. Sendo bom, ele nos é útil, além de ser uma fonte de sucesso para os homens.
No entanto, Deus, por ser bom, não é causa de tudo, como diz o povo, mas é causa de poucas coisas para os homens, e por muitas outras não é responsável, pois para nós acontecem muito menos coisas boas que más. Pelos acontecimentos favoráveis, nenhum outro deve ser responsabilizado, mas para os males devemos procurar outras causas, menos Deus.
Depois de nos ter apresentado Deus como uma construção perfeita e como modelo do bem, Platão começa um trabalho inverso: a demolição da representação poética dos deuses mitológicos. Para isso, ele ressalta o contraste entre Deus verdadeiro, por ele atrás apresentado, e deuses em aparência, com que Homero e Hesíodo os representam em seus poemas. De um lado, um Deus simples e verdadeiro, absolutamente incapaz de se metamorfosear, do outro, os deuses múltiplos da tradição poética. Que de propósito aparecem às vezes sob outros aspectos, ora ele mesmo com sua presença, e mudando seu aspecto em diversas formas, ora nos enganando e nos fazendo acreditar que essas formas é ele próprio.
Para contestar a idéia de que Deus possa se metamorfosear, Platão argumenta com três hipóteses:
Na primeira, evoca a própria constituição da divindade. Quanto mais uma estrutura é perfeita, menos é susceptível de sofrer alterações. E lembra, além de outros, os objetos fabricados pelos homens, neles incluindo os seres compostos como edificações e vestimentas, que, quando aperfeiçoados pela própria natureza ou pela técnica, não são modificados por agentes exteriores. Ora, Deus e as coisas de Deus são sob todos os pontos excelentes. Por conseguinte Deus não assumiria formas diferentes.
A segunda hipótese incluiria a própria divindade como agente de sua metamorfose. Neste caso, se o próprio Deus consentisse em se metamorfosear, ele se transformaria em algo melhor ou pior? É forçoso que se transformasse em algo pior, uma vez que é impossível deixar de afirmar que a Deus não falta nenhuma beleza ou virtude.
A terceira hipótese seria de todas a mais absurda porque abalaria a razão de ser da própria divindade, se refletirmos que sua existência é tanto mais preciosa quanto mais sincero for seu relacionamento com os homens. Pode acontecer, sugere Platão, que os deuses não sejam capazes de se metamorfosear, mas apareçam sob diversas formas para nos enganar e nos fascinar. Ora, seria inadmissível um relacionamento que se baseasse no encantamento e na mentira.
Com a conclusão desta terceira parte da argumentação platônica, fica clara a diferença entre a proposta de instrução dos guardiães da República e a pretensa educação da cidade através da poesia épica. Platão propõe como princípio básico de educação na República Deus e a verdade em oposição a duas espécies de mentira que alimentavam a alma humana e dificultavam a difusão do saber durante o domínio da poesia épica. Essas eram a verdadeira mentira e a mentira por palavras. A primeira é a ignorância que reside na alma do homem enganado, que Platão chama a grande mentira; a segunda, aquela que, originando-se de um estado de alma, torna-se depois, através das palavras, um simulacro, ambas odiadas pelos deuses e pelos homens.
No final desta proposta didática de Platão, baseada na idéia de que Deus é fonte exclusiva do bem, poderíamos perguntar: Se os bens distribuídos por ele são menos numerosos que os males que nos acontecem, a quem atribuir uma relativa felicidade de que usufrui grande parte dos mortais? Seriam eles próprios os artífices de grande parte deste bem? Ou seriam privilegiados com uma parte mais generosa por parte da divindade ou do destino no momento de sua distribuição?
Nas Leis X, 903e3, sqq., Platão expõe sua opinião de como os deuses administrariam o universo com mais facilidade. Ele imagina um modelo de plasticidade, em que tudo se transmudasse, como, por exemplo, se do fogo jorrasse água plena de germes vitais, ao invés de uma investigação dialética que vai do múltiplo para o uno e do uno para o múltiplo. Depois de ter tomado parte numa primeira, segunda e terceira geração, seriam infinitas em quantidade as transformações desse universo em contínuo devir.
A associação com Deus, modelo do bem, de que Platão nos fala no segundo Livro da República, parece-me que poderia ser feita por esta expressão das Leis, isto é, aquele que vela pelo universo, ou aquele que comanda o todo, com a diferença de que, conforme as próprias palavras do filósofo, aqui a expressão está carregada de plasticidade, de emoção e até de carinho com relação àqueles que são velados.
Logo a seguir, ele emprega outra expressão equivalente, o nosso rei. Mas, neste texto, ele não se utiliza da palavra theós com a função de presidente do universo, como fez no segundo Livro da República, a não ser quando, numa comparação, se refere aos deuses deste modo, isto é, tais como aqueles deuses que existem de acordo a lei. Por outro lado, com essa comparação, ele parece querer pôr em relevo um comando em ação, em contraste com uma divindade que traz a chancela oficial da política e da poesia.
O filósofo não nos fala aqui de como esse comando ou rei criou o universo, mas diz que ele observou lá do alto que todas as ações são movidas por uma alma e que nelas há muita virtude e muito vício, e ainda, que o composto de alma e de corpo é imperecível, mas não eterno.
Só mais tarde, nos diz Platão, esse comando fez uma reflexão, de que tudo quanto há de bom na alma é naturalmente útil e de que tudo quanto nela há de mau é por natureza prejudicial.
Depois que teve a respeito de tudo isso uma idéia de conjunto, esse comando maquinou um meio de distribuir cada uma dessas partes, de modo que a virtude ficasse sempre na condição de vencedora e que o vício fosse sempre marcado com o sinal da derrota, pois essa disposição tornaria tudo isso mais fácil e o melhor possível.
Assim ficou maquinado para cada coisa o tipo determinado em que cada uma vai se manifestando: qual posto cada coisa deve ocupar para estabelecer sua residência e em quais lugares. Há porém um ponto básico em que esse comando jamais interferiu: no arbítrio humano, pois deixou que cada um de nós agisse de acordo com sua vontade com a condição de que cada um de nós ficasse como responsável por suas ações. Acrescenta ainda que, conforme o desejo de cada um e a natureza de sua alma, é mais ou menos assim que, em toda parte, cada homem assume a direção de sua conduta.
A proposta de Platão de que Deus é causa somente do bem é uma formulação otimista e ousada, mas nos traz dúvidas quanto à possibilidade e ao modo de ele se tornar real. Afinal, se Deus é responsável somente pelas coisas boas que nos acontecem, a quem atribuir tantos males que nos sobrevêm, os quais, no dizer do próprio filósofo, são mais numerosos que os bens? Esses males poderiam ser atribuídos à vontade dos homens ou ao destino?
Foi isso que não ficou claro na República, onde Platão nos apresenta um Deus distante dos homens, embora dadivoso e benévolo. Há um projeto mútuo entre ele e os homens, que envolve a felicidade destes e em que estes são beneficiários, mas o filósofo não nos explica qual é a contrapartida humana para que isso se torne realidade.
O texto das Leis, pelo contrário, é bem mais sugestivo quanto ao modo como a divindade distribui com os homens sua bondade. Dadivoso, Deus fornece seus bens aos homens, não diretamente, mas por um circuito que os torna agentes e beneficiários, coparticipantes de um projeto em que lucram na medida em que compreendem o alcance do seu objetivo.
Compreendê-lo parece ser o grande desafio que a sabedoria divina pôs diante dos homens, porque esse bem não é gratuito, mas de árduo aprendizado e consecução, em razão de uma complicada técnica didática com que ele nos é apresentado. Servindo-se com sabedoria dos meios que Deus pôs à sua disposição, virtude , vício, vontade livre e responsabilidade, e, compreendendo a função que lhe cabe neste projeto em que está envolvido, o homem, parece-nos, pode colaborar bastante para a fruição do bem que Deus lhe fornece, contribuindo para seu próprio sucesso e felicidade, ao invés de atribuir seus insucessos somente à má vontade divina e ao acaso.
Assim também como na musica, Platão considera o ensino da ginástica indispensável para os guardiões. Mas não a ginástica dos atletas, pois os guardiões precisam se livrar das dietas fixas dos atletas, os guardiões têm que se adaptarem a qualquer tipo de dieta sem prejudicar sua saúde, e também precisam ser vigilantes ao contrario dos atletas que precisam de muito sono.
O objetivo da ginástica dos guardiões não é atingir a força de um atleta, mas sim a educar o corpo e a coragem do guerreiro. Sendo assim deve-se criar uma ginástica simples que ensine somente o necessário e não permitir que se dedique demais a ginástica pois ira torná-lo bruto e incapaz dos dons da palavra, assim como na musica que o tarnara muito brando e amolecera sua função de guardião. Fazendo assim a ginástica e a musica partes indivisíveis de uma mesma Paidéia, A Paidéia dos Guardiões.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

SOCRATES

Detalhes sobre a vida de Sócrates derivam de três fontes contemporâneas: os diálogos de Platão, as peças de Aristófanes e os diálogos de Xenofonte. Não há evidência de que Sócrates tenha ele mesmo publicado alguma obra. As obras de Aristófanes retratam Sócrates como um personagem cômico e sua representação não deve ser levada ao pé da letra.
Sócrates casou-se com Xântipe, que era bem mais jovem que ele, e teve três filhos: Lamprocles, Sophroniscus e Menexenus. Seu amigo Críton criticou-o por ter abandonado seus filhos quando ele se recusou a tentar escapar antes de sua execução, mostrando que ele (assim como seus outros discípulos), parece não ter entendido a mensagem que Sócrates tenta passar sobre a morte (diálogo Fédon), antes de ser executado.
Não se sabe ao certo qual o trabalho de Sócrates, se é que houve outro além da Filosofia. De acordo com algumas fontes, Sócrates aprendeu a profissão de oleiro com seu pai. Na obra de Xenofonte, Sócrates aparece declarando que se dedicava àquilo que ele considerava a arte ou ocupação mais importante: maiêutica, o parto das idéias. A maiêutica socrática funcionava a partir de dois momentos essenciais: um primeiro em que Sócrates levava os seus interlocutores a pôr em causa as suas próprias concepções e teorias acerca de algum assunto; e um segundo momento em que conduzia os interlocutores a uma nova perspectiva acerca do tema em abordagem. Daí que a maiêutica consistisse num autêntico parto de ideias pois, mediante o questionamento dos seus interlocutores, Sócrates levava-os a colocar em causa os seus “preconceitos” acerca de determinado assunto, conduzindo-os a novas ideias acerca do tema em discussão. Platão afirma que Sócrates não recebia pagamento por suas aulas. Sua pobreza era prova de que não era um sofista.
Várias fontes, inclusive os diálogos de Platão, mencionam que Sócrates tinha servido ao exército em várias batalhas. Na Apologia, Sócrates compara seu período no serviço militar a seus problemas no tribunal, e diz que qualquer pessoa no júri que imagine que ele deveria se retirar da filosofia deveria também imaginar que os soldados devessem bater em retirada quando era provável que pudessem morrer em uma batalha.
Algumas curiosidades: Sócrates costumava caminhar descalço e não tinha o hábito de tomar banho. Em certas ocasiões, parava o que quer que estivesse fazendo, ficando imóvel por horas, meditando sobre algum problema. Certa vez o fez descalço sobre a neve, segundo os escritos de Platão, o que demonstra o caráter legendário da figura Socrática.
Idéias filosóficas
As crenças de Sócrates, em comparação às de Platão, são difíceis de discernir. Há poucas diferenças entre as duas idéias filosóficas. Conseqüentemente, diferenciar as crenças filosóficas de Sócrates, Platão e Xenofonte é uma tarefa difícil e deve-se sempre lembrar que o que é atribuído a Sócrates pode refletir o pensamento dos outros autores.
Se algo pode ser dito sobre as idéias de Sócrates, é que ele foi moralmente, intelectualmente e filosoficamente diferente de seus contemporâneos atenienses. Quando estava sendo julgado por heresia e por corromper a juventude, usou seu método de elenchos para demonstrar as crenças errôneas de seus julgadores. Sócrates acredita na imortalidade da alma e que teria recebido, em um certo momento de sua vida, uma missão especial do deus Apolo Apologia, a defesa do logos apolíneo “conhece-te a ti mesmo“.
Sócrates também duvidava da idéia sofista de que a arete (virtude) podia ser ensinada. Acreditava que a excelência moral é uma questão de inspiração e não de parentesco, pois pais moralmente perfeitos não tinham filhos semelhantes a eles. Isso talvez tenha sido a causa de não ter se importado muito com o futuro de seus próprios filhos. Sócrates freqüentemente diz que suas idéias não são próprias, mas de seus mestres, entre eles Pródico e Anaxágoras de Clazômenas.
Amor
No Simpósio, de Platão, Sócrates revela que foi a sacerdotisa Diotima de Mantinea que o iniciou nos conhecimentos e na genealogia do amor. As idéias de Diotima estão na origem do conceito socrático-platônico do amor.
Diotima de Mantinea é uma filósofa grega com um papel importante no Simposyum de Platão. A filosofia de Diotima está na origem do conceito platônico de amor. A única fonte sobre ela é o próprio Platão e por isso não é possível assegurar se era uma personagem ou alguém que de fato tenha existido. Entretanto, praticamente todos os personagens dos diálogos platônicos correspoderam a pessoas que viviam na antiga Atenas. Na obra, há uma passagem sobre o significado do amor. Sócrates é o mais importante dentre os homens presentes. Ele diz que na juventude foi iniciado na filosofia do amor por Diotima, que era uma sacerdotisa. Diotima lhe ensinou a genealogia do amor e por isso as idéias de Diotima estão na origem do conceito socrático-platônico do amor. Segundo Jospeh Campbell, “não é por acaso que Sócrates nomeia Diotima como aquela que lhe deu as instruções e os métodos mais significativos para amar/falar. A palavra falada por amor é uma palavra que vem das origens.”[1]
Conhecimento
Sócrates sempre dizia que sua sabedoria era limitada à sua própria ignorância (Só sei que nada sei.). Ele acreditava que os atos errados eram conseqüências da própria ignorância. Nunca proclamou ser sábio. A intenção de Sócrates era levar as pessoas a se sentirem ignorantes de tanto perguntar, problematização sobre conceitos que as pessoas tinham dogmas, verdades. De tanto questionar, principalmente os sábios, começou arrebanhar inimigos.
Virtude
Sócrates acreditava que o melhor modo para as pessoas viverem era se concentrando no próprio desenvolvimento ao invés de buscar a riqueza material. Convidava outros a se concentrarem na amizade e em um sentido de comunidade, pois acreditava que esse era o melhor modo de se crescer como uma população. Suas ações são provas disso: ao fim de sua vida, aceitou sua sentença de morte quando todos acreditavam que fugiria de Atenas, pois acreditava que não podia fugir de sua comunidade. Acreditava que os seres humanos possuíam certas virtudes, tanto filosóficas quanto intelectuais. Dizia que a virtude era a mais importante de todas as coisas.
Política
Diz-se que Sócrates acreditava que as idéias pertenciam a um mundo que somente os sábios conseguiam entender, fazendo com que o filósofo se tornasse o perfeito governante para um Estado. Se opunha à democracia aristocrática que era praticada em Atenas durante sua época,essa mesma ídéia surge nas Leis,em Platão e Sócrates não deixou nenhum escrito,nem ao menos sobre política.Tudo que sabemos sobre seus pensamento está na obra de Platão,seu discípulo.
Ruptura e Legado
Sócrates provocou uma ruptura sem precendentes na história da Filosofia grega, por isso ela passou a considerar os filósofos entre pré-socráticos e pós-socráticos. Os sofistas, grupo de filósofos (embora seja negado por Platão) originários de várias cidades, viajavam pelas pólis, onde discursavam em público e ensinavam suas artes, como a retórica, em troca de pagamento. Sócrates se assemelhava exteriormente a eles, exceto no pensamento. Platão afirma que Sócrates não recebia pagamento por suas aulas. Sua pobreza era prova de que não era um sofista. Para os sofistas tudo deveria ser avaliado segundo os interesses do homem e da forma como este vê a realidade social(subjetividade). Isso significa que, segundo essa corrente de pensamento, as regras morais, as posições políticas e os relacionamentos sociais deveriam ser guiados conforme a conveniência individual. Para este fim qualquer pessoa poderia se valer de um discurso convicente, mesmo que falso ou sem conteúdo. Os sofistas usavam, de fato, complicados jogos de palavras, no discurso para demonstrar a verdade daquilo que se pretendia alcançar, este tipo de argumento ganhou o nome de sofisma. Em resumo, a sofística destruia os fundamentos de todo conhecimento, já que tudo seria relativo(relativismo)e os valores seriam subjetivos, assim como impedia o estabelecimento de um conjunto de normas de comportamento que garantissem os mesmos direitos para todos os cidadãos da pólis. Tanto quanto os sofistas, Sócrates abandonou a preocupação em explicar e se concentrou no problema do homem. No entanto, contrariamente aos sofistas, Sócrates travou uma polêmica profunda com estes, pois procurava um fundamento último para as interrogações humanas ( O que é o bem? O que é a virtude? O que é a justiça?), enquanto os sofistas situavam as suas reflexões a partir dos dados empíricos, o sensório imediato, sem se preocupar com a investigação de um essência da virtude, da justiça do bem etc., a partir da qual a própria realidade empírica pudesse ser avaliada.

[1] Mitos, sonhos e religião, Joseph Campbell, p. 162

O Milagre Grego



    Para entendermos o nascimento do pensamento filosófico, primeiro devemos conhecer as condições que foram determinantes para o seu nascimento. Assim devemos voltar à Grécia antiga para estudar a sua arte, religião e as condições socioeconômicas.
    Antes de qualquer coisa devemos lembrar que a educação dos cidadãos gregos dava-se pela poesia entre as quais se destacavam as de Homero (Ilíada e Odisséia). Seus poemas se diferenciavam dos demais, por isso sua importância para a mudança de pensamento. Os poemas homéricos são em sua composição uma apresentação de harmonia, proporções e de limites e medidas. Não sendo uma simples narração de fatos, mas uma pesquisa de suas causas e razões (mesmo que míticas) e os apresenta de diversos modos a realidade desses fatos. Como explicam a origem do universo e de tudo que nele há, tornar-se uma cosmologia. E isso abriu o caminho necessário para o questionamento racional de nossa existência.
    Assim como a sentencia dos antigos sábios “conheça a ti mesmo” que se encontra gravado na entrado do templo de Delfos, que teve uma grande influencia no pensamento dos grandes filósofos entre os quais se destaca Sócrates.
    Agora quanto à religião da Grécia antiga, devemos lembrar que é necessário dividir-la em duas partes, a religião publica que foi apresentada pelos poetas com a imagem dos deuses e seus cultos e a religião dos “mistérios”. A religião publica segundo Homero e Hesíodo, tudo é divino, pois os deuses são a explicação de tudo o que acontece e existe. Mais quem são esses deuses, se não versões ampliadas dos homens. Uma versão pura das qualidades dos homens, gerando certo naturalismo, pois não se pedia para mudar a natureza do ser humano, mas sim aumentar suas qualidades já existentes. Então os deuses se diferenciavam dos homens em qualidades não em quantidade.
    Mas a religião publica não era o suficiente para todos os gregos, então em pequenos grupos fechados criaram os “mistérios” com seus próprios cultos e modo de pensar. Entre esses grupos devemos destacar os mistérios órficos em sua importância para o nascimento da filosofia. O Orfismo criou na sociedade grega um novo modo de ver a vida e a morte, que prega que apesar do homem ser mortal a sua alma é imortal. Reencarnando até encontrar a perfeição, os núcleos dessa nova crença podem ser traduzidos da seguinte maneira:
  • O homem divino, já que sua alma (um demônio) caiu em seu corpo por uma culpa originaria.
  • O demônio é imortal, mesmo que o corpo morra, ele voltara até se livrar de sua culpa.
    Assim a maneira de interromper o ciclo da reencarnação é com uma series de cultos e ritos (uma vida órfica), para libertar a alma do corpo, dando assim um premio no alem para quem purifica sua alma (ou seja, os iniciados nos mistérios órficos).
    Com essa nova crença o homem compreende a dualidade da alma que luta contra o corpo, rompendo assim o naturalismo da religião publica e entende que certos impulsos do corpo devem ser evitados. Tornando essa purificação da alma um novo objetivo de vida dos gregos. Como os gregos nunca tiveram nenhuma espécie de escrituras sagradas ou doutrinas imutáveis e inflexíveis, a qual essa nova crença pudesse se contrapuser logo se espalhou por toda Grécia.
    Junto com essas mudanças vieram às transformações socioeconômicas da Grécia. Que passa de uma economia patriarca e agrícola para comercial e artesanal. Isso começou primeiro nas colônias, talvez pro serem afastadas da mãe-pátria. Tiveram seu crescimento acentuado, fundando assim centros econômicos comerciais com poder para enfrentar o sistema de poder (aristocrata) e lutar por liberdade, a principal característica da filosofia.
    Assim afirmamos que “a filosofia nasce primeiro nas colônias e não na Mãe-pátria”, principalmente nas colônias orientais da Ásia Menor (Mileto). Gerando um novo conceito de colônia que passa a ser polis, descobrindo o sentimento não só de liberdade, mas o de ser cidadão.